segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Dengue to fora.






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Saúde

Guerra contra a dengue começa tarde
Lúcio Távora / Agência A


O risco da tragédia vivida por 25 famílias baianas acontecer foi admitido tardiamente. Somente em 14 outubro de 2008 o Ministério da Saúde anunciou um aporte extra de R$ 9,5 milhões para a Bahia combater o mosquito da dengue. De 2006 para 2007, houve um aumento de quase 200% no número de casos da dengue hemorrágica (subiu de 43 para 124 registros), aquela que tem matado muitas crianças baianas.
Os recursos – que o governo federal tem obrigação de garantir – foram autorizados em novembro do ano passado, mas só começaram a chegar agora em março, com o Aedes aegypti espalhado em todo o Estado. Foi enviado R$ 1,3 milhão para aquisição de tampas e capas de caixa d’água. “Mas isso (o atraso) não foi impeditivo para que o trabalho de combate aos focos continuasse. Nenhum município ficou sem receber recursos”, explicou a superintendente de Vigilância e Proteção à Saúde da Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), Lorene Pinto. Ela responsabiliza gestões municipais pelo grave cenário baiano.
Com base em dados da Sesab, já em 2007, 49,28% dos 417 municípios baianos não alcançaram a cota prevista de imóveis a serem vistoriados no combate ao foco do mosquito. Em 2008, este percentual subiu para 51,70%. Além disso, das 45 cidades baianas consideradas prioritárias pelo ministério, apenas 22 apresentaram à Sesab o plano de contingência, necessário para se estabelecerem as estratégias de controle da doença, inclusive o número de agentes de endemia necessários e o cronograma das ações.
E é de responsabilidade dos municípios o trabalho de prevenção nas vias públicas e no interior das casas. As prefeituras devem fazer pelos menos seis ciclos de visitação dos agentes de combate a endemias, uma a cada 60 dias. Mas é o governo do Estado que, por meio das diretorias regionais (Dires), deve fiscalizar este trabalho e notificar quem não faz o serviço bem-feito. “Se há uma epidemia, é porque houve descaso no trabalho de prevenção. Se houve descaso, o Ministério Público vai apurar e punir os responsáveis”, afirmou a promotora do MP Itana Viana.
A Sesab não apontou culpados e se eximiu de culpa em uma edição extraordinária de seu informativo: “A Sesab tem feito sua parte”, diz um trecho. “Nos primeiros meses de 2009, a secretaria estadual já notificou cerca de 16 mil casos, indicativo de que alguma esfera responsável deixou de cumprir sua parte”, diz o informativo.
Mas só depois de o surto matar 25 pessoas vieram medidas estaduais incisivas. O governo do Estado anunciou R$ 8 milhões para aquisição de material de consumo e soros. Investiu em mais de 100 poltronas de hidratação, determinou as unidades de referência para tratamento da doença, criou postos de hidratação em hospitais da capital e interior e anunciou campanhas mais impactantes, como a que vai ser realizada amanhã antes do Ba-Vi, no Estádio de Pituaçu. A explicação talvez tenha Lorene Pinto: “Em 15 anos trabalhando com o combate e prevenção à dengue, vejo que, sempre quando a coisa aperta, o combate ao vetor é sacrificado”.
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, também jogou a responsabilidade nas costas dos municípios. Culpou as trocas de prefeitos nas últimas eleições pela epidemia. Segundo ele, as novas administrações demitiram equipes de agentes de combate às endemias e interromperam o trabalho preventivo. “Cerca de 40% dos municípios trocaram de prefeitos”, disse. Os pleitos municipais ocorreram em todo o País, mas os números baianos estão na contramão dos nacionais. Enquanto no Brasil houve redução de 40% no número de casos nas seis primeiras semanas deste ano com relação ao mesmo período de 2008, na Bahia eles aumentaram em 66%.
O cuidado com a saúde é uma competência das três esferas de poder – federal, estadual e municipal –, como determina o Artigo 23 da Constituição Federal. Mas pela complexidade, a dengue requer mobilização de toda a sociedade, de todos nós.
O cidadão comum também tem sua parcela de culpa pelas 25 mortes e os mais de 21 mil casos confirmados pela Secretaria Estadual de Saúde este ano, número já próximo da quantidade registrada pelo Rio de Janeiro durante todo o ano de 2008, quando houve 22.351 casos confirmados, segundo o Ministério da Saúde. “A dengue exige um combate diário, que deve ser feito por todos”, comenta a epidemiologista e pesquisadora em dengue Glória Teixeira, diretora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia.
Cada um de nós tem a obrigação de não permitir que água limpa e parada fique armazenada, pois é neste habitat que os ovos encontram perfeitas condições para eclodirem. Esta recomendação serve tanto para vaso de plantas quanto para caixa d’água que ficam instalados no lado externo das casas. A ajuda da população não se constatou na capital, por exemplo. Muitos bairros que passaram pelos mutirões de limpeza no dia seguinte apresentavam toda a sujeira, propícia ao depósito das lavras do mosquito. Foi o que aconteceu em Praia Grande, no subúrbio ferroviário, segundo a coordenadora municipal de combate à dengue, Eliaci Costa.

Texto: Valmar Hupsel e George Brito / Postado em 21/03/2009 ás 09:05

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