A dengue pode ser transmitida por duas espécies de mosquitos (Aedes aegypti e Aedes albopictus), que picam tanto durante o dia como à noite. Os transmissores, principalmente o Aedes aegypti, se reproduzem dentro ou nas proximidades de habitações, em recipientes onde se acumula água limpa (vasos de plantas, pneus velhos, cisternas, etc.). A transmissão pelo Aedes albopictus não é comum, porque o mosquito não costuma freqüentar o domicílio como o Aedes aegypti. O Aedes aegypti mede menos de um centímetro, tem cor café ou preta e listras brancas no corpo e nas pernas. O mosquito costuma picar nas primeiras horas da manhã e nas últimas da tarde, evitando o sol forte, mas, mesmo nas horas quentes, pode atacar à sombra, dentro ou fora de casa. Em média, cada Aedes aegypti vive em torno de 30 dias e a fêmea chega a colocar entre 150 e 200 ovos de cada vez. Ela é capaz de realizar inúmeras posturas no decorrer de sua vida, já que copula com o macho uma única vez, armazenando os espermatozóides em suas espermatecas (reservatórios presentes dentro do aparelho reprodutor). Uma vez com o vírus da dengue, a fêmea torna-se vetor permanente da doença e calcula-se que haja uma probabilidade entre 30 e 40% de chances de suas crias já nascerem também infectadas. Os ovos não são postos na água, e sim milímetros acima de sua superfície, em recipientes tais como latas e garrafas vazias, pneus, calhas, caixas d’água descobertas, pratos de vasos de plantas ou qualquer outro que possa armazenar água de chuva. Quando chove, o nível da água sobe, entra em contato com os ovos, que eclodem e nascem mais larvas do mosquito.
Jequié (BA) lidera casos de dengue no Estado:
Jequié, na região sul da Bahia, lidera o número de ocorrências de casos de dengue no Estado. Com 145 mil habitantes e a 370 km de Salvador, o município registrou 16% dos casos notificados de dengue na Bahia este ano. O último balanço revelou que das quase 60 mil notificações da doença no Estado, Jequié teve 9.720 casos. Apesar do pico da epidemia já ter passado, com o número de novos casos em tendência declinante, o diretor da Vigilância Epidemiológica Municipal, Brasilino de Almeida Jr. chama atenção para dois aspectos que preocupam: o aumento das notificações nos pequenos municípios do entorno e o fato de que dos 31 bairros, 25 ainda apresentam índice de infestação acima de 1%, o que é considerado grave pelas autoridades sanitárias. A atenção maior está sendo dada aos bairros de Amaralina, com índice de 9,09%, Barro Preto, 8,32%, Invasão, 7,87% e Km 3, com 7,14%. "O número de casos vem caindo, mas é preocupante que diversos bairros do município ainda apresentem um grande índice de infestação predial, apesar das ações que vem sendo desenvolvidas de combate à doença", afirmou Brasilino. Segundo ele, a maior parte dos reservatórios de água dos moradores não é coberta ou é protegida de forma inadequada, deixando espaços para a entrada do mosquito Aedes aegypti, que coloca ali os seus ovos. É o caso da dona-de-casa Maria Braga dos Santos, de 36 anos, moradora do bairro Invasão, e que ainda se recupera da dengue, contraída semanas antes. Ela cobriu a caixa d'água com uma telha ondulada de amianto, apesar de reconhecer que a solução não evitava a entrada do mosquito, pois não veda completamente o recipiente. "Se o bicho [Aedes aegypti] quiser entrar, ele entra. A prefeitura prometeu dar uma nova tampa, mas até agora, nada", disse ela, que também pediu a atenção do poder público para o bairro, que cresceu desordenadamente com ruas de terra, próximo a um córrego poluído. "É só olhar em volta e ver que a prefeitura não dá atenção para nós", afirmou. Na casa vizinha, a diarista Carmelita Sampaio Santos, de 40 anos, também foi vítima da doença, ficando 14 dias internada. Sem saber exatamente onde era o foco do mosquito transmissor, ela culpou o lixo depositado no valão que passa em frente ao seu terreno. "Deve ser desse valão. Tem muita vasilha com água, que dá para a dengue entrar. Eu jogo tudo no lixo, mas muitos jogam na valeta", disse Carmelita. A cidade de Jequié foi a primeira a sinalizar que a Bahia teria uma epidemia da doença, ainda em outubro do ano passado, com focos de larvas do Aedes aegypti em quase 5% dos imóveis vistoriados no bairro Joaquim Romão, o mais populoso e onde fica a rodoviária. Enquanto a maioria dos municípios baianos começava a apresentar uma trajetória ascendente de caos de dengue, em janeiro Jequié já tinha o caos instalado no sistema de saúde, com 449 casos na primeira semana, 626 na segunda, 707 na terceira e 743 na quarta, fechando o primeiro mês com mais de 2.500 casos. Em fevereiro, no pico da epidemia, o município registrou 3.613 notificações. O responsável pela vigilância sanitária no município negou que tenha havido demora da prefeitura nas ações de combate à dengue, mas admitiu que não havia como oferecer uma resposta para a rápida eclosão da epidemia na cidade. Hoje o quadro é outro, com as enfermaria recebendo poucos pacientes, sendo que boa parte vem dos pequenos municípios em torno, que não apresentaram quadro grave no início, mas agora começam a multiplicar os doentes de dengue. Na enfermaria do Hospital Estadual Prado Valadares, a maior parte dos pacientes internados com a doença vinha de cidades próximas, o hospital teve mais de 700 internamentos por dengue, como o motorista Edualdo Souza Moraes, de 43 anos, que estava internado com princípio de dengue hemorrágica. Morador do distrito de Santa Teresinha, em Jitaúna, ele responsabilizou a prefeitura por negligenciar a limpeza pública. "As autoridades deixaram de fazer a parte dela. O lixo leva três dias para ser recolhido e o lixão fica a apenas 200 metros da cidade, servindo para a reprodução do mosquito", disse. Manoel Vitorino é mais um município baiano, perto de Jequié, onde a epidemia também se espalha rapidamente. A moradora do distrito de Catingal, Kelly Sueny Mello, de 20 anos, contraiu a dengue juntamente com a família: o pai, a mãe e a irmã também ficaram doentes. Segundo ela, que está grávida de cinco meses, o foco do mosquito foi localizado num lixão próximo, onde havia mais de 100 locais com larvas do Aedes. Mas o problema maior, segundo Kelly, foi a fala de um posto de saúde para diagnosticar a doença. "O posto estava pronto, com equipamentos dentro, mas continuava fechado. Só foi aberto há poucos dias, depois que a epidemia já havia começado", afirmou. Para a coordenadora do Núcleo de Epidemiologia do hospital, Meirinha Alves Domingos, é necessária se ter uma atenção urgente aos municípios vizinhos, para evitar a volta da epidemia. "Caso contrário, aqui poderá estar controlado, mas vão voltar os casos. É a importação do vírus dos municípios, dos outros municípios", alertou.

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