O governo brasileiro fechou a primeira Parceria Público Privada (PPP) na área de saúde com uma empresa multinacional. O acordo foi firmado, no dia 25/9 em Londres, entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a GlaxoSmithKline (GSK), para o desenvolvimento de vacina contra a dengue.
Pelo contrato, será criado um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento na Fiocruz, com investimentos de 70 milhões de euros. Cada parceiro financiará metade do valor. Segundo o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, a vacina deve ficar pronta em cerca de cinco anos.
Há 100 milhões de casos de dengue por ano no mundo, doença considerada hoje um problema mundial, com registros em países como Itália e Estados Unidos, devido ao aquecimento global. No Brasil, foram noticiados cerca de 387 mil casos de dengue no primeiro semestre deste ano.
A PPP com a GSK é um desdobramento do acordo fechado anteriormente com a empresa para a transferência tecnológica para a produção nacional da vacina pneumocócica, que protege contra a meningite bacteriana e pneumonia. Essa vacina, hoje só disponível no sistema privado, será incorporada ao calendário brasileiro de imunização em 2010. O investimento para produção e distribuição é de 1,5 bilhão de euros.
Temporão também disse que o Brasil fará um pregão internacional para a compra de vacinas contra o vírus A (H1N1), no início de outubro. Já está definido que 18 milhões de doses serão produzidas no Instituto Butantan em São Paulo, com investimento de R$ 250 milhões.
Como o país precisa de 80 milhões de doses, o restante será adquirido no mercado internacional. No total, o Brasil vai investir R$ 1 bilhão em vacinas contra a chamada gripe suína.
O ministro afirmou que o governo está liberando, por meio de medida provisória, R$ 2,1 bilhões para a compra de vacinas e medicamentos e para o tratamento de pacientes em estado grave. "Ninguém sabe como será a segunda onda (da gripe suína), e todos os países estão se preparando para algo mais sério." Temporão afirmou que trocou informações sobre o tema com o ministério da Saúde do Reino Unido, onde passou a semana em missão com representantes do setor no Brasil.
Segundo Temporão, ainda há questões a serem resolvidas sobre a vacinação. Não está definido, por exemplo, se é necessária uma ou duas doses para a imunização contra o H1N1. Também é preciso fechar os critérios para a campanha e escolher os grupos prioritários que receberão a vacina. O Reino Unido já comprou doses suficientes para imunizar toda a população, o que deve começar a ser feito em outubro.
Ameaça mundial
Pesquisas visando ao desenvolvimento de uma vacina contra a dengue já estão em andamento na Fiocruz. Os projetos, entretanto, não conseguiram proteger contra os quatro sorotipos existentes da dengue.
O secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério, Reinaldo Guimarães, disse que uma particularidade complica ainda mais o desenvolvimento de uma vacina.
"Na dengue, quem já foi infectado com um sorotipo, se for infectado com outro sorotipo tem uma probabilidade maior de ter uma doença grave, de virar dengue hemorrágica", explicou.
"Portanto, se você tiver uma vacina contra um sorotipo, você está aumentando os casos graves dos demais sorotipos. É preciso uma conjugação dos quatro, não adianta fazer uma vacina para três, senão é uma vacina que vai contra os outros sorotipos".
Temporão chamou atenção, entretanto, para o "longo caminho" até uma vacina confiável contra a doença.
"Primeiro é preciso desenvolver um protótipo, depois produzi-lo em escala semi-industrial, depois testar em animais, depois testar em seres humanos, é um longo caminho a ser desenvolvido", disse o ministro.
Ele acrescentou que a ideia é dar prioridade para a vacina contra a dengue, mas que a iniciativa também deve incluir o aperfeiçoamento da vacina contra a febre amarela e a produção da vacina contra a malária.
Fonte: O Estado de S.Paulo / BBC Brasil / UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário